terça-feira, 9 de novembro de 2010

Como envelhecer!?!

O tempo passa para todas, você sabe lidar bem com isso?
De repente, aquela olhada no espelho deixa de ser comum para se tornar marcante. Você se dá conta de como a pele mudou, de como os cabelos perderam o viço, de como a aparência está modificada. É quando você percebe que o tempo passa, inclusive para você. Aquele brilho no olhar de anos atrás perdeu um pouco a luminosidade e a sua energia não é mais a mesma. Não tem jeito: a contagem progressiva é inevitável. A cada instante estamos ficando mais velhas. A questão é como encaramos esse processo. Muitas associam esta fase à inatividade, à dificuldades e ao fim da vida. E é por isso que muita gente tem medo de envelhecer. Você é uma delas?
"O modelo de referência para quase tudo que se relacione ao sucesso, beleza, sensualidade e valorização da mulher em nossa sociedade é a juventude. Esse processo é particularmente difícil para a mulher bonita, acostumada a atrair olhares por sua aparência. Ao envelhecer, ela começa a ter uma sensação de invisibilidade, isto é, deixa de atrair os olhares ao passar, como se não estivesse ali", explica a psicóloga Mariuza Pregnolato.
“Ela teme não ser capaz de provocar a excitação, o desejo nos homens e sofre ao se perceber preterida em festas, nas ruas, nos lugares em que desejaria atrair olhares sobre si, como ocorria quando era jovem”
E é isso mesmo! O principal medo da mulher, relacionado ao envelhecimento, está ligado à perda de seu poder de sedução. "Ela teme não ser capaz de provocar a excitação, o desejo nos homens e sofre ao se perceber preterida em festas, nas ruas, nos lugares em que desejaria atrair olhares sobre si, como ocorria quando era jovem", observa a especialista.
Isso acontece porque as mulheres tendem a valorizar demais o homem. Segundo a antropóloga Mirian Goldenberg, a mudança de valores ajuda a conquistar uma velhice melhor. "Primeiro, a mulher vai investir em capitais que vão transformar a velhice, como capital cultural, capital científico ou em outros relacionamentos que não sejam só com o homem. Tudo isso pode alimentar um projeto de uma velhice melhor. Quando a mulher investe só em corpo e em forma física, todos os projetos passam pelo homem e pelas cirurgias plásticas", descreve. Por isso, a frustração pode ser grande.
Processo natural
É bom, desde cedo, colocar na cabeça que envelhecer é mais do que natural. É um processo biopsicossocial gradativo de diversas transformações, ocorridas ao longo da existência do indivíduo. Biologicamente falando, há diminuição da eficiência das funções orgânicas, o que leva, muitas vezes, ao aparecimento das mazelas próprias da idade.
No campo psicológico também há alterações: as faculdades cognitivas (memória em curto prazo, rapidez de raciocínio, atenção e concentração) diminuem. Entretanto, a pior parte do processo é a sócio-cultural, em que, devido aos valores sociais e culturais, às crenças e aos estereótipos, o processo de envelhecimento é percepcionado como negativo.
Segundo Mirian, sua atenção se voltou para o envelhecimento quando, aos 30 anos, leu A velhice, de Simone de Beauvoir. "Fiquei muito deprimida. O livro foi determinante na minha decisão de estudar o tema. O objetivo é mudar essa concepção de velhice e mudar a minha velhice. Quando li a obra, fiquei sem perspectiva de envelhecer bem, porque para ela envelhecer era negativo", conta.
Mas não pense que é assim em qualquer parte do mundo. Esse medo de envelhecer é estritamente cultural e varia de acordo com o lugar. Tem gente que nem liga para o passar dos anos. "Percebi que na Alemanha e na Espanha, envelhecer tem outros significados, desde que você tenha saúde e qualidade de vida. Nesses dois países, para as mulheres entre 50 e 60 anos, envelhecer é muito positivo", comemora a antropóloga.
Mas estar jovem é perceber um conjunto de medidas, não só estéticas. É por isso que muita gente chega aos 50 com cara, corpo e cabeça de 20. "As mulheres saem-se melhor do que os homens: são mais aderentes a ações preventivas de saúde, intensificam a rede de relacionamentos, ampliam o repertório de atividades (dançam, jogam, viajam), e, quando amadas e valorizadas, desabrocham para o amor, companheirismo e para o sexo com plenitude, ao contrário do homem que, embora continue atraente externamente, tende a se debater dolorosa e solitariamente com a perda de sua potência anterior, dificuldade de buscar ajuda e compartilhar seu sofrimento", explica a psicóloga Mariuza Pregnolato.
Segundo a especialista, o medo de envelhecer é uma resposta natural do organismo. "Em outras palavras, é saudável sentir medo diante de uma situação nova, ameaçadora, com a qual ainda não aprendemos a lidar. É um estado que pede que redobremos nossa atenção e utilizemos dos nossos melhores recursos para equacionar a questão que se apresenta".
Para tudo existe limite. O medo de envelhecer pode até ser natural, mas não pode, em hipótese alguma, virar uma neurose. "Isso acontece quando a pessoa se recusa a conviver em harmonia com a passagem natural do tempo", explica a psicóloga. Quando as pessoas têm consciência de que o relógio biológico está funcionando à plena corda, lidam melhor com o envelhecimento. "Elas lidam adequadamente com as frustrações e dificuldades que vão surgindo ao longo do tempo paralelamente à perda da juventude", diz a psicóloga. 

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