sábado, 27 de novembro de 2010

Mãe denovo

Enjôos, vontade de fazer xixi a cada dez minutos, dores na coluna, inchaço nas pernas e muito, muito peso no abdômen, que, levando pontapés, cresce até ter o tamanho de uma enorme melancia. Além disso, a instabilidade do humor traz uma felicidade suprema e, em seguida, choro copioso com o anúncio de margarina. Mesmo tendo experimentado esses e outros sintomas, muitas mulheres se aventuram por uma segunda gravidez. As diferenças, porém, serão muitas, a começar pelo fato de ter que dividir as atenções entre a barriga e a criança que já está do lado de fora.
O desejo de não criar um filho único foi o que motivou Mônica Miozzo, 31 anos, a engravidar novamente quando sua filha, Vitória, estava com dois anos e três meses de idade, desfraldada e na escolinha. "Uma criança é muito pouco e a gente acaba mimando demais. Eu já queria ter outro filho e achei que três anos era uma diferença razoável", afirma Mônica, grávida de sete meses de Valentina, que vai nascer no mês em que a irmã completará três anos. Assumindo o papel de "mais velha", Vitória não demonstra ciúmes e lembra da caçula em seus planos. "Quando a gente faz qualquer atividade ou compra alguma coisa, ela sempre inclui a irmã", conta Mônica, que continua carregando a primogênita no colo.
“Se a mulher teve o primeiro filho aos dezoito anos e vai ter o segundo aos trinta e cinco, não há problema algum. Agora, se essa mulher vai ter o segundo filho aos quarenta e cinco anos, tem que avaliar os fatores de risco por causa da idade”
O tempo certo
Segundo a presidente da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro, Vera Lúcia Mota da Fonseca, deve-se aguardar de dois a três anos para engravidar novamente. "Nem sempre o tempo ideal é cumprido, mas o recomendado é que pelo menos um ano tenha se passado depois da outra gestação. Esse intervalo é fundamental para que a mulher possa amamentar até os seis meses de vida do bebê, se dedicando exclusivamente aos cuidados que deve dispensar à criança", salienta a médica. "É o tempo mínimo para que o organismo da mulher volte ao normal e ela recupere o seu peso", afirma a obstetra, alertando que amamentar não impede, embora diminua, a ovulação e que deve ser usado um método contraceptivo seguro, como camisinha, diafragma ou pílula à base de progesterona, para evitar o segundo filho.
Foi confiando na famosa tabelinha que a administradora escolar Raquel Mascarenhas está, hoje, no quarto mês de gestação. Com menstruação regular e tendo demorado dois anos para engravidar da primeira filha, Raquel foi pega de surpresa por um período fértil antecipado em muitos dias. "Foi uma loucura. A gente estava adquirindo um negócio próprio e a Maria Eduarda, com um ano e pouquinho, era praticamente um bebê. Fiquei dois ou três dias em estado de choque. Não conseguia me ver grávida de novo, por que significava me limitar no trabalho e com a minha filha", conta, refeita do susto ao ouvir o coraçãozinho de seu bebê e, depois, feliz com a idéia de os filhos crescerem juntos, com dois anos e um mês de diferença de idade.
Tudo igual?
Raquel Mascarenhas é o exemplo de que cada gravidez é peculiar. "Estou me sentindo bem mais cansada, fraca e enjoando. Tenho tido muito mais apetite, além de dor-de-cabeça, hipoglicemia e pressão baixa", relata. No primeiro trimestre, anemia e um pequeno sangramento a fizeram repousar na medida do possível, já que passa de dez a doze horas fora de casa. Ela e o marido, Ricardo, são donos de uma escola, para onde levam a filha e pretendem manter o bebê a partir do quarto mês.
Sobra pouco tempo para a vida em casal. "O Ricardo também fica grávido, muito sensível e carente. Eu não dei muita atenção a ele como esposa, mas agora acho que as coisas vão melhorar", brinca a administradora escolar, que queria tentar um parto normal após ter feito uma cesariana, mas foi desaconselhada por sua médica. "Se a mulher fez uma cesárea antes, a chance de ela ocorrer novamente é muito maior se o intervalo entre as gestações for curto, pois isso é um fator de risco para uma ruptura uterina", explica a obstetra Vera Lucia Mota da Fonseca.
Sem se preocupar com isso, no entanto, a advogada Isabela Salgado, 27 anos, tentou um parto normal dois anos e meio após se submeter a uma cesariana. "Na verdade, fiz duas cesáreas não programadas. Entrei em trabalho de parto nas duas vezes, mas os bebês estavam enrolados no cordão", relembra, provando que o sexo do embrião não altera os sintomas. Mãe de uma menina de dois anos e dez meses e de um menino de quatro meses, ela praticamente não sentiu diferença entre as duas gravidezes - ambas assintomáticas -, a não ser o fato de ter tido infecções urinárias uma vez na primeira e três vezes na última, todas diagnosticadas no pré-natal.
Infecção urinária é, segundo a obstetra Vera Lúcia, um problema que não costuma se repetir. Já outras intercorrências, como diabetes gestacional, placenta prévia, doenças hipertensivas e abortos, podem voltar a acontecer. Para diagnosticá-las, de acordo com a médica, deve-se fazer um pré-natal tão detalhado como o primeiro, com no mínimo seis consultas.
O ideal é fazer o chamado "risco pré-concepção" antes de engravidar, checando exames e vacinas e preparando o organismo com muito ácido fólico, o que vale para gestações pouco ou muito espaçadas. Quando o bebê é temporão, leva-se em conta a idade da mãe. "Se a mulher teve o primeiro filho aos dezoito anos e vai ter o segundo aos trinta e cinco, não há problema algum. Agora, se essa mulher vai ter o segundo filho aos quarenta e cinco anos, tem que avaliar os fatores de risco por causa da idade", explica a médica.
Emoção em dobro
Tendo vivido há oito anos a sua segunda gravidez planejada, Vládia Campos é mãe de Luísa, 8 anos, e André, 13. Os cinco anos entre os nascimentos foram, para ela, uma longa espera, porém necessária, porque o marido passava por instabilidade profissional, depois superada. "Eu queria que a diferença entre eles fosse de três a quatro anos no máximo", diz. Mesmo assim, recorda que a segunda gestação, além de gerar maior expectativa pelo desejo de uma menina, foi bem mais movimentada.
"Meu filho tinha muitas atividades e quem o levava para os lugares era eu. Na primeira gravidez, a mulher está mais bem disposta, mais nova e não tem nenhum filho para cuidar. Depois, a gente não consegue nem curtir a gravidez direito" afirma Vládia, lembrando que, da última vez, teve problemas como sangramento, perda de líquido e contrações uterinas precoces.
Nostálgica, ela registrou as recordações das gestações e dos primeiros anos de vida dos filhos em minuciosos álbuns, se emocionando ao lembrar delas e da pontinha de frustração por não ter tido outro bebê. "Adorei estar grávida. Se eu pudesse, teria três ou quatro filhos", garante. Realista devido à idade e a questões financeiras, ela hoje se conforma de ter fechado a fábrica.
Mônica Miozzo, Raquel Mascarenhas e Isabela Salgado também encaram a segunda gravidez como última, tendência que parece crescer, segundo a presidente da Associação de Ginecologia e Obstetríca do Rio de Janeiro. "A gente tem observado um grande grupo de mulheres de classes mais altas que estão optando por um filho só ou, no máximo, dois", avalia Vera Lúcia Mota da Fonseca.

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